quarta-feira, 25 de abril de 2012

Médico diz que Marabá não tem estrutura para emergências cardiológicas


A morte do empresário Daniel Franco que teve seu corpo sepultado esta manhâ em Marabá, está levantandodiscusão a respeito da inexistência, em Marabá, de recursos hospitalares para o manejo das urgências e emergências cardiológicas. Além do assunto provocar debates entre comunitários, o médico cardiologista Manoel Veloso, filho do ex-prefeito Geraldo Velosocomo cidadão e profissional de saúde, desta cidade, não posso deixar de comentar o quanto acredito que estamos despreparados para atuar, como comunidade, quer seja no âmbito de saúde pública, quanto no da saúde privada, no manejo das urgências e emergências cardiológicas.
Cerca de 30% da primeira manifestação de um infarto é a morte súbita. Se ela ocorre distante de um desfibrilador (chance de quase 100% na nossa cidade) a possibilidade de salvar esta vida é praticamente nula. Existe a possibilidade de, ocorrendo a parada cardíaca diante de alguém com treinamento em suporte básico de vida (procedimentos que devem ser tomados antes da chegada da equipe médica), mantenha-se uma circulação mínima por massagem torácica compressiva vigorosa, por cerca de 15-20 minutos, podendo oferecer chance de vida cerebral. Depois disto, é imperativo que uma equipe de socorristas já esteja no local para promover o choque elétrico e medicações na tentativa de restabelecer a circulação, melhorar a oxigenação e transportar a pessoa para um hospital com equipamento de hemodinâmica para realização de cateterismo imediato. Se a equipe de cardiologistas intervencionistas conseguir desobstruir a artéria responsável pelo infarto, segue-se um período de recuperação em UTI cardiológica, com altas possibilidades de complicações posteriores, porém com chances reais de vida.
Dentro do que descrevi, vamos tentar verificar nossa realidade:
Não temos formação de suporte básico de vida para leigos. Cursos deveriam ser ministrados para a população em geral, profissionais de saúde, profissionais do comércio, de hotéis, aeroportos, rodoviárias, todos enfim. Não temos implantada na cidade uma política de desfibriladores automáticos.
Nossa unidade de atendimento móvel de urgência (SAMU) é insuficiente e mal estruturado para cobrir nossa cidade quase metropolitana. Daí pensarmos que um acionamento desta equipe seja efetivamente realizado em 10-15 min (tempo telefone-doente) provavelmente será exceção.
Não dispomos de hospital com serviço de hemodinâmica. O Hospital Regional Dr. Geraldo Veloso iniciou obras no sentido de ampliar capacidade e nela estão previstos investimentos para hemodinâmica e cirurgia cardíaca, além de unidade intensiva cardiológica. Vamos esperar para ver se acontece deste modo. Partindo do princípio que já estivesse em funcionamento, como ficaria o acesso a este centro? Como está hoje, o paciente deveria ser deslocado para o HMM e de lá tentar vaga no Regional. Vamos lembrar que quem está na situação crítica de recuperação de parada cardíaca não pode perder nenhum minuto. No máximo, em até 03 horas do início do quadro, a artéria já deveria estar aberta idealmente, para minimizar as consequências e aumentar a chance de sobrevida.
A situação é pior no setor privado, pois ainda não temos nenhum leito de UTI, para, ao menos, manter as condições de vida antes de uma transferência aérea, que demorará pelo menos 04 horas (mais que o tempo ideal e se tudo der certo – convênio, dinheiro, avião, equipe, vaga no destino, distância, transporte do hospital para aeroporto e aeroporto hospital).
Portanto, o que é que estamos fazendo?
Esperando o Governo do Estado nos entregar um centro de cardiologia intervencionista e de cirurgia cardíaca, ok. Mas, e até lá? E se as coisas não saírem como planejado? Não é fácil trazer hemodinamicistas e cirurgiões cardíacos experientes para cá. Neste mês, estamos deixando o Dr. Arílson Rodrigues, hemodinamicista, filho de Marabá, aceitar proposta em Belém e está nos deixando, após tentar montar este serviço por aqui, sendo também não é certeza se seria chamado para compor a estrutura do Regional, mais tarde.
Creio que não podemos simplesmente esperar. Temos que juntar forças para que esta estrutura de proteção funcione.
Precisamos discutir este e outros problemas em conjunto, sociedade, médicos (unimed, CRM, cadê a associação médica?), políticos, poder Municipal e Estadual.
Vamos parar de desperdiçar vidas tão importantes para nossa sociedade.

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