A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça (22), em segundo turno, a
proposta de emenda constitucional 438/2001, que prevê o confisco de
propriedades em que trabalho escravo for encontrado, destinando-as à
reforma agrária e ao uso social urbano. A matéria, que foi aprovada em
primeiro turno em agosto de 2004, deve agora voltar ao Senado por conta
da inclusão, pela Câmara, da previsão de expropriação de imóveis
urbanos.
Foram 360 votos a favor, 29 contrários e 25 abstenções, totalizando
414 votos. Ao final, os deputados cantaram o Hino Nacional no plenário. Clique aqui para saber como votou seu deputado ou deputada.
Em 2004, foram 326 votos a favor, 10 contrários e 8 abstenções.
Mais de 3,1 mil propriedades foram fiscalizadas por denúncias de
trabalho escravo desde 1995, quando o Brasil criou o seu sistema de
combate ao crime. Destes locais, foram resgatadas cerca de 42 mil
pessoas. No campo, a maior incidência de trabalho escravo contemporâneo
está na criação de bovinos, produção de carvão vegetal para siderurgia,
produção de pinus, cana-de-açúcar, erva-mate, café, frutas, algodão,
grãos, cebola, batata, na extração de recursos minerais e na extração de
madeira nativa e látex. Nas cidades, a incidência é maior em oficinas
de costura, no comércio, hotéis, bordéis e em serviços domésticos. No
campo e na cidade, pipocam casos na construção civil.
Após reunião das lideranças partidárias com o presidente da Câmara
Marco Maia na tarde desta terça, houve um acordo para que a proposta
fosse colocada em votação. Inicialmente todas as bancadas orientaram
seus deputados pelo “sim”, com exceção de Nelson Marquezelli, que
afirmou que o PTB votaria contrariamente. Contudo, no decorrer da
votação, o partido voltou atrás e voltou atrás, corrigindo a orientação
dada pelo deputado federal paulista.
Parte dos deputados contrários à PEC perceberam que a posição
favorável à aprovação teria quórum e recearam defender uma negativa que
poderia ser questionada posteriormente, uma vez que o voto para mudança
constitucional é aberto. Ao mesmo tempo, quase 100 deputados estava
ausentes. Isso ajuda a explicar o baixo número de votos contrários, que
da a falsa impressão de que a votação foi fácil.
Ao final, nem todos os parlamentares obedeceram a orientação
partidária, mas o número foi suficiente para aprovar a matéria. Após a
derrota no Código Florestal, a aprovação da polêmica proposta na Câmara
foi vista como demonstração de força do governo Dilma Rousseff na
Câmara.
Histórico
A PEC 438/2001 prevê um acréscimo ao artigo 243 da Constituição
que já contempla o confisco de áreas em que são encontradas lavouras de
psicotrópicos. O projeto está tramitando no Congresso Nacional desde
1995, quando a primeira versão do texto foi apresentada pelo deputado
Paulo Rocha (PT-PA). Proposta no Senado Federal por Ademir Andrade
(PSB-PA), ela foi aprovada na casa em 2003 e remetida para a Câmara,
onde o projeto de 1995 foi apensado. Desde sua aprovação em primeiro
turno, em 2004, ela já entrou e saiu de pauta várias vezes. Dezenas de
cruzes foram plantadas no gramado do Congresso em março de 2008, para
protestar contra a lentidão na aprovação da proposta. Dois anos depois,
um abaixo assinado com mais de 280 mil assinaturas foi entregue ao então
presidente da Câmara, Michel Temer.
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