Desistências são rotineiras no deficitário Campeonato Brasileiro da Série D. Por isso, não houve surpresa na decisão do Cametá de abdicar do torneio. Até porque, ainda durante o returno, o prefeito do município – principal patrono do time – já admitia embaraços para bancar a folha salarial.
Mesmo com a ajuda da CBF (para deslocamentos, hospedagens e alimentação), o Cametá precisaria sanar débitos de R$ 260 mil e folha salarial de R$ 130 mil, sem contar com o patrocínio do governo do Pará e com perspectiva de rendas pífias.
Tudo estaria dentro da mais absoluta normalidade se dirigentes de Cametá e Remo não tivessem selado um “acordo de cavalheiros” antes das finais do Campeonato Paraense. Oficialmente, o entendimento envolvia somente a divisão de renda dos jogos, mas, a partir do triunfo cametaense, veio à tona o outro lado da moeda: o campeão teria negociado a vaga na Série D.
Em termos práticos, não há como denunciar o acordo, até por inexistência de provas materiais, já que a contrapartida do Remo veio na forma de liberação de 50% da arrecadação da decisão do Parazão. De mais a mais, o Cametá apresentou motivos consistentes para sua desistência.
O imbróglio foi amplificado, através das redes sociais, pelo caráter de negociata envolvendo a renúncia do Cametá. Caso não houvesse a partilha de arrecadação nas finais do Parazão, dificilmente surgiriam críticas à atitude do time interiorano.
Quando já era dada como líquida e certa a transferência da vaga para o Remo, pressionada pelos torcedores, eis que a diretoria do Cametá articula a destituição do presidente e empossa o vice. De imediato, questionou o documento assinado pelo ex-mandatário, que cedeu a vaga aos azulinos, e anunciou ter desistido de desistir. A balbúrdia se instalou e caberá à CBF definir quem representará o Pará na Quarta Divisão.
A partir de agora, caso confirme a vaga, o Remo terá como primeira preocupação administrar a repercussão negativa da situação criada por alguns de seus dirigentes. Como grande clube, arca com o ônus de ser supostamente o corruptor. Mesmo que isso não seja verdade, ficará sempre no ar uma nuvem de suspeitas. E restará a lição secular da mulher de César, sempre ignorada pelos maiorais do nosso futebol: não basta ser honesto, é preciso parecer honesto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário