quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Dilma nomeou nacionalista Amorim para acalmar militares, dizem analistas

A decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear o ex-chanceler Celso Amorim para ocupar o lugar de Nelson Jobim no Ministério da Defesa serve para dar aos militares um nacionalista de peso no cenário político para comandar a pasta que controla as Forças Armadas. É esse o entendimento de analistas ouvidos pelo UOL Notícias nesta quinta-feira  (4).

Ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e ministro dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o peemedebista Jobim perdeu o cargo depois de uma série de controvérsias com Dilma e com membros do Palácio do Planalto. Mais longevo ministro da Defesa – ficou mais de quatro anos – ele é tido como um interlocutor eficiente dos militares.

“Há quem diga que Dilma errou porque indicou um diplomata, como José Viegas, que passou só dois anos na pasta no governo Lula”, disse o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília). “Mas Amorim é bem diferente. Foi ministro de Relações Exteriores duas vezes e muitas opiniões nacionalistas dele coincidem com as dos militares. Isso pesa.”

Entre as posturas nacionalistas que Amorim compartilha com os militares, estão a defesa de um papel mais ativo para o Brasil no mundo e a necessidade de reequipar as Forças Armadas – o ex-chanceler foi um dos principais negociadores da bilionária compra de caças, ainda não concluída. Ele defende a aquisição de aviões franceses, para evitar os norte-americanos.

Para Francisco Fonseca, da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), Amorim terá habilidade para negociar uma agenda de defesa para o Brasil, embora a pasta não tenha funções claras desde que foi desidratada pela criação da Secretaria de Aviação Civil. “Ele foi membro de um governo que sempre se manifestou de forma nacionalista. Jobim era mais discreto nisso”, afirmou.

Comissão da verdade

O cientista político afirma que Amorim já criou um espaço grande como chanceler e que é uma figura política da mesma estatura de Jobim. “Isso não significa que não haverá discordâncias. Na questão da Comissão da Verdade, que se propõe a investigar crimes cometidos pela ditadura, Amorim deve ter a posição do governo. Jobim estava com os militares”, afirmou.

Já Luciano Dias, do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos), acredita que a escolha de Amorim se deve em parte ao nacionalismo do diplomata e em parte à “falta de opção”. “Ele foi um dos primeiros ministros do Lula que a Dilma repeliu. Teve de apelar a ele por absoluta falta de uma figura que preenchesse aquele espaço”, afirmou.

Dias também prevê atritos entre Amorim e os militares por conta da Comissão da Verdade. Mas avalia que “a falta de importância da pasta, já que o Brasil não tem política de defesa, pode tornar o trabalho do futuro ministro menos tumultuado”. “O governo Dilma se segura na popularidade do governo Lula, a questão do Ministério da Defesa é menor”, afirmou.

Para os três especialistas, Dilma foi forçada a demitir Jobim, depois de ele demonstrar insubordinação nas críticas a duas das principais assessoras do governo: as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). “Não dá para ter superministro em um governo que está se afirmando”, resumiu Fonseca, da FGV.


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