sábado, 15 de dezembro de 2012

Entrevista



Diretor nacional do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime (IBBC)vê com otimismo as ações futuras do disque-denuncia, mas reconhece que a entidade precisa de mais apoio político e comercial
Apesar da recente pesquisa divulgada recentemente pela revista Veja, em que coloca a cidade de Marabá com uma das mais violentas do Brasil, o Dique-denúncia há um ano tem dado suporte para o combate ao crime da região e especificamente de Marabá.
Sobre o assunto, Edson Kallil de Almeida, diretor nacional do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime conversou com o Zeca News.  De acordo Edson Kallil há muito ainda a ser feito. Definida pelo próprio diretor é “uma organização da sociedade civil com interesse público”, o Instituto Brasileiro de Combate ao Crime precisa de mais apoio para financiar principalmente as atividades do disque-denuncia e manter o combate ao crime e a violência como meta e mudar o atual panorama que a cidade está vivenciando.
O disque denuncia completou um ano no ultimo dia 8. Qual a analise que o senhor faz em relação ao desempenho desse órgão que auxilia a policia no combate ao crime?
O balanço foi surpreendente, muito acima da nossa expectativa. Foram 8.760 horas ouvindo uma cidade que estava calada até então. Durante esse ano, nós resolvemos mais de 400 casos. Salvamos mais de 100 vidas, recuperamos mais de uma tonelada de cocaína, vários quilos de crack, óxi.
Marabá ganhou um fortalecimento na luta contra o crime. Nós conseguimos tirar e faz parte desse balanço, Marabá da terceira posição de entre as cidades mais perigosas de entre as 5.564 cidades brasileira. Esse é um balanço principal. A credibilidade que a população aposta na gente reflete e manifesta no disque-denúncia, a quantidade de denúncias que fizeram e uma ameaça futura evidente, que é evidentemente a manutenção desse programa.
Qual a perspectiva desse órgão e como enfrentar esse desafio?
A perspectiva é de permanência. Esse é um programa da sociedade, não é da prefeitura e nem do governo. Ele é da sociedade marabaense. O enfrentamento dele se dá com a articulação e com a rede dos agentes econômicos da cidade se articulando para manter o programa.
Hoje o nosso buraco no orçamento é de 40 mil reais. Isso significa 40 empresários participando com mil reais. Ou oitenta empresários participando com 500 reais. Ou a população se manifestando e dando cada um quanto acha que pode.
É importante dizer que segurança não tem preço. É necessário pagar salários, recompensas, premiações a policiais, aos jornalistas pelo jornalismo investigativo. É necessário fazer campanhas, porque o que nos mata é arma. Eu acho que Marabá está dando um exemplo como uma célula democrática de resistência sem dar tiro. Contra a violência.
Porque a briga polícia-bandido é um jogo de derrota, todos morrem. Morre polícia, bandido e quem não tem nada a ver com isso. A bala perdida não escolhe vítimas. Então o grande enfrentamento é quando a inteligência, a gestão, a tecnologia e a cooperação social se esgotaram. Aí nós vamos para o enfrentamento. Quando a diplomacia perdeu.
Há algum projeto de se manter contato com o próximo gestor para apoiar o disque-denúncia?
Eu estive com o futuro prefeito João Salame em Brasília no Ministério das Cidades, e a nossa conversa foi excelente exatamente neste sentido. Ele como é um homem que tem uma visão pública, um espírito público, um olhar público, extremamente generoso, moderno, corajoso e combativo eu acho que é com ele que nós vamos contar como uma espécie de patrocinador de caráter político-institucional. Eu tenho muita esperança e muito desespero.
O senhor acha que a violência afeta a economia?
Absolutamente verdadeiro. O primeiro impacto da violência é na economia. Onde existe violência a economia não viceja não cresce. Não se desenvolve ninguém sai pra jantar, ninguém vai ao cinema, ninguém come pipoca, ninguém anda sem intenção pela cidade. Imagine as cidades violentas o que acontece com os turistas. Alguém faz turismo no Iraque ou em Bagdá ou em Kabul no Afesganistão? Ninguém faz turismo em cidades violentas. Não fazem investimentos, ao contrario fica todo mundo criando rotas de fuga.
Portanto é exatamente através da economia que deve vir a primeira resposta. Porque ela é mais afetada. E se nós permitirmos e formos calmos e tolerantes a violência só fará crescer. Porque aspectos da violência são montados em cima de negócios. Para se ter uma idéia o grama da cocaína é mais caro do que o quilo do ouro, então parece que vale a pena vender cocaína com todos os males, mazelas e seqüelas que ela provoca.
Então nós precisamos criar células de resistência contra isso, esse eu acho que é o nome correto. E é exatamente o que Marabá está fazendo. Fez durante o último ano e não pode deixar morrer é daí pra frente, aumentar, é melhorar, ganhar em qualidade em esforço. Nós tivemos que eliminar um turno e isso é péssimo, nós temos que recuperar esse turno. E o buraco no orçamento que nós precisamos é de 40 mil reais para manutenção do programa.
Sobre as estatísticas divulgadas na revista Veja, isso preocupa o disque-denúncia a respeito da imagem da cidade de Marabá?
Eu acho que isso preocupa ao Brasil. Eu acho está na hora de Marabá  se articular, a imprensa especialmente pra dar uma resposta a essa pesquisa divulgada na revista Veja que colocou Marabá entre os 5.564 municipios brasileiros como um dos mais violentos.
Há um ano a gente vem dando essa resposta. Agora não basta ser, tem que parecer ser. A imprensa local tem que fazer o seu papel de divulgar diariamente os acontecimentos da crônica do cotidiano da cidade. Mas tem também que articular uma resposta inteligente pra essa revista de caráter nacional e dizer: venham conhecer o que nós fizemos. Venham conhecer a nossa célula de resistência contra a violência. Pode não ser a melhor do mundo e nem a mais eficiente mas é a nossa. Feita com coragem, do nosso jeito, feita com a nossa população. Porque não há um policial em cada esquina do mundo, mas há um cidadão em cada esquina do mundo. 


Um comentário:

  1. Essa semana um amigo me disse que esta deixando Maraba para habitar em uma cidadezinha ao nordeste brasileiro, depois de viver seis anos e fazer varias amizades, pois teme por sua familia. Por conta dessa violencia desenfreada que tomou conta de Maraba,” prefiro trabalhar e ganhar menos fora que correr rico de morte”. Esse indice é realmente vergonhoso. Estamos vivendo uma inversao de valores, bandido solto e o cidadao preso.

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