Quem financia a pirataria é o próprio artista.
Neste exato instante, quem leu o título acima deve imaginar que uma dieta de suco de tangerina com bolachas de morango esteja começando a fazer efeito e me transformando-me em um idiota. Bem, à parte os leitores que já me consideram um idiota desde o momento em que comecei a escrever estas mal traçadas linhas aqui no Yahoo!, quero dizer a você que não, não estou enlouquecendo. Acontece que esta coisa de pirataria de CDs, downloads gratuitos, MP3 e o raio que o parta não é o monstro sanguinário e assassino que todo mundo do que restou da indústria fonográfica se esforça em nos lembrar. Senão, vejamos… Vamos pegar o caso da cantora Adele, que recebeu recentemente a notícia de que seu ótimo disco 21 conseguiu a façanha de vender mais de um milhão de cópias apenas nos Estados Unidos em uma época em que ninguém quer gastar um tostão para comprar algo que pode se conseguir de graça nos “Soulseeks da vida”. Isto sem contar que o tal disco estava disponível na Internet um mês antes de seu lançamento, na íntegra! E ainda está! Afinal de contas, como é possível explicar isto nos dias de hoje? Você não sabe? Titio Regis aqui vai explicar… O que aconteceu foi que mesmo quem tinha feito o download do disco não pestanejou na hora de comprar o CD oficial porque já conhecia as músicas, tinha gostado do que tinha ouvido, foi na loja, viu que o preço não era exorbitante – quando comparado com a renda média de seu salário -, comprou e levou para casa um disco bem gravado, com encarte bacana e o escambau… Sim, você vai dizer que os compradores moram na Europa e nos Estados Unidos, têm grana, blá, blá, blá, que no Brasil todo mundo é pobre, bla, blá, blá… Aquela velha ladainha de sempre… Mas não esqueça de que os Estados Unidos passam pela pior crise econômica dos últimos 50 anos… Sabe qual a explicação? É simples. Não importa o lugar no planeta: se a música é boa e está disponível a um preço acessível, a pessoa vai comprar o CD oficial, mesmo que ela já tenha uma cópia mal ajambrada em CD-R. Agora, pare para pensar nas pessoas de classes menos favorecidas. Sim, aquelas que todo mundo diz que são as maiores consumidoras de CDs piratas, aquelas “víboras insensíveis” que se recusam a pagar quase R$ 40,00 por um disco pavoroso do Luan Santana, que optam pela cópia xerocada e xexelenta do camelô a cinco reais. Será que esta massa de gente, mesmo inconscientemente, não sabe que, no fundo, a música criada por seus ídolos é uma bela porcaria? Mesmo sem saber, será que estas pessoas não sentem que as canções de seus grupos de pagode ordinários favoritos, suas duplas sertanejas de araque preferidas e outros pseudoartistas têm uma vida musical muito curta na memória de seus admiradores? Resumindo: por que esses cidadãos “mesquinhos” têm que gastar boa parte de seu salário ridiculamente baixo para comprar um CD do qual eles vão enjoar de ouvir em 15 dias? Agora, se você ainda acha que estou de miolo mole, faço aqui a afirmação que não quer calar, mas queninguém tem coragem de fazer: você sabia que são os próprios artistas que muitas vezes financiam a pirataria de seus próprios produtos? E digo “produtos” porque é exatamente dessa forma que a música é encarada hoje em dia. Como você explica o fato de um CD estar na banca do camelô 20 dias antes de seu lançamento? Ponha-se no lugar de um artista de sucesso. Imagine que ele ganha 2% sobre o valor de venda para o atacado de cada unidade oficial do CD que acabou de gravar – algo em torno de R$ 0,50 por unidade. Se ele resolver piratear o seu próprio disco, colocar as cópias nas barracas dos camelôs e fazer um acordo em que 60% do valor do CD-R fique para ele e 40% para o “funcionário”, ele vai lucrar… R$ 3,00 por CD-R!!! Fonte: Bahia Repórter
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