segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A divisão do Pará não foi desfeita




Lúcio Flávio Pinto


O efeito do plebiscito de 11 de dezembro, quando mais de dois terços do eleitorado paraense se recusaram a aceitar a divisão do Estado para a criação de mais duas unidades federativas, de Carajás e do Tapajós, deverá se refletir nas eleições municipais deste ano. Mesmo se tratando de disputas em âmbito territorial restrito, que permite aos candidatos atuar apenas em uma base de votos, o suficiente para sua eleição, um dos seus efeitos poderá ser o de especializar a representação política.

O Pará saiu polarizado da votação do ano passado. As posições postas em questão pela consulta plebiscitária segmentaram espacialmente o eleitorado em territórios conflagrados. Essa tensão e esse ânimo conflitantes ficaram obscurecidos pelo resultado da votação, na qual a esmagadora maioria da população se opôs aos projetos de emancipação. Não faltavam sólidos argumentos contrários a essa aspiração, e, em especial, à forma com que ela se expressou. Mas, ao se manifestar de maneira tão vigorosa contra os separatistas, a região metropolitana de Belém se isolou.

Será uma vitória de Pirro se os vitoriosos não perceberem a situação em que ficaram e não tratarem de compensar os derrotados. Nem é o caso de compensação, já que a expressão se desgastou nas tentativas de camuflar as perdas causadas por iniciativas de impacto. Ao invés de compensar, o reequilíbrio político e territorial do Estado exige uma nova divisão de poder e a descentralização administrativa. Sem isso não haverá o necessário desarmamento dos espíritos, mobilizados por uma campanha aventureira e oportunista dos líderes dos projetos dos dois Estados.

Eles sabiam que as evidências demográficas impossibilitavam a vitória. A derrota se tornou ainda maior por causa de uma campanha de marketing desastrada. Ao invés de tentar convencer a maioria dos paraenses sobre as vantagens da divisão, atacou-os com a pretensão de intimidá-los ou diminuí-los, fazendo-os assim incorporar o papel de algozes, de responsáveis pelos problemas das regiões agora empenhadas em se libertar desse jugo. Ao invés disso, a campanha por Carajás e Tapajós suscitou o orgulho nativo e engendrou o receio de comprometer o futuro pela perda de suas riquezas naturais.

Uno ou tripartido, o Pará já está com esse futuro ameaçado pelas práticas em curso de exploração dessas riquezas, que seriam mantidas pelos defensores da redivisão. Mas eles conseguiram convencer (ou iludir) as populações do Oeste e Sul de que os novos Estados só não saíram pelo egoísmo e tirania dos que controlam as engrenagens do poder decisório e querem manter a situação atual, raiz das injustiças e desigualdades. A polaridade extremada poderá acabar com o livre ir-e-vir de políticos que se destacaram na campanha do plebiscito.

Com uma diferença: desfeita a ameaça da separação da maior parte do território paraense, os que se posicionaram contra deixarão de formar uma unidade, como a que persistirá nas áreas de Carajás e Tapajós. E que persistirão como campo de manobra para os líderes dos dois movimentos. Se eles sabiam que a vitória era quase impossível no plebiscito, agora as possibilidades de vitória pessoal se tornaram factíveis. Suas carreiras poderão prosseguir.

Até agora a administração Jatene nada fez para reverter essa situação e restabelecer o entendimento político entre as três partes do Estado. Ao endossar o nome do deputado Zenaldo Coutinho, líder da frente contra as emancipações, como candidato do PSDB à prefeitura de Belém, parece indicar que continuará a agir assim, contra o sentido da história. Mesmo que não haja candidato capaz de se harmonizar com a difícil e conflituosa história do Pará.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O QUE ACHOU DO BLOG