cantora Dona Onete, a diva do carimbó chamegado que está em fase de pré-produção do seu primeiro CD de nome "Feitiço Caboclo", produzido por Marco André, será uma das atrações do programa Esquenta, da Rede Globo, apresentado por Regina Casé. A produção do programa esteve esta semana em Belém conversando com a cantora de 72 anos, e se encantou com a história de vida e musical da artista. Dona Onete viaja neste domingo, 29, para o Rio de Janeiro e na segunda faz uma passagem de som. Na terça-feira, grava sua participação no programa, que ainda não tem data para ir ao ar.
Dona Onete será também uma das atrações do Festival Rec-Beat, que acontece nos dias 18, 19, 20 e 21 de fevereiro, em Recife (PE). Nessa apresentação ela terá como convidados especiais os cantores Felipe Cordeiro, Luê Soares e Lia Sophia, que dividirão o palco com a cantora que será acompanhada pelos músicos Pio Lobato (guitarra), Vovô (bateria), Fabrício Lobinho (percussão) e Calibre (baixo).
Gaby Amarantos e Dona Onete chamam a atenção com sua música marcada por ritmos do Norte do Brasil
Carimbó, banguê, guitarrada, tecnobrega ou tecnomelody. Os nomes desses estilos musicais até parecem vindos de outra língua ou de uma cultura remota. O estranhamento, entretanto, é fruto da boa e velha distância geográfica (e cultural) de nosso Brasil continental.Essa música de nome ainda pouco familiar está logo ali, no Norte. Veio de lá Gaby Amarantos, conhecida como Beyoncé do Pará, que faz sucesso com o seu tecnobrega.
“Não acho que o paraense desconheça o resto da cena brasileira. Mas o Brasil ainda ignora a cena do Pará, que é diferente, quase outro país. A cultura, o clima, o modo de as pessoas falarem são diferentes”, afirma Gaby, de 33 anos. Cada vez que alguém busca entender a cena local, ela é requisitada para entrevistas.
O tecnobrega ganhou destaque nacional quando o antropólogo Hermano Vianna escreveu sobre o tema, explica a cantora. Na época, festas de aparelhagem eram exclusivas da periferia paraense. A própria Gaby – que primeiro abandonou o coro da igreja e depois a MPB para se entregar ao ritmo – foi alvo de censura. “Amigos diziam que não iria durar três meses, queriam que usasse saião e flor no cabelo para cantar MPB. A imprensa local não falava daquele som. Atualmente, se der confiança, estou todos os dias no jornal”, conta a Beyoncé do Pará.
Ela avisa: ao desembarcar no aeroporto de Belém do Pará, você já ouve tecnobrega. “Toca inclusive nas festas elitizadas”, revela. Mas nem só de Gaby vive o Pará. A própria cantora faz a lista de nomes que o Brasil deve conhecer. É o caso de Dona Onete, de 72 anos, que canta carimbó e compõe letras – “chamegados”, porque falam de amor e de coisinhas mais picantes.
“Faço chamego para louro e moreno. Digo que homem cria o bicho solto. Homem também deve ser valorizado. A gente só fala de mulher nas músicas”, brinca Dona Onete. Não foi como Gaby, mas ela já rompeu os limites do Pará. Foi a São Paulo e Rio de Janeiro, veio a Minas Gerais se apresentar.
Idolatrada pelos jovens paraenses, gravou com os meninos do coletivo Rádio Cipó, cujo som mescla hip-hop, groove e eletrônico. “Canto com eles um bocado de coisa que nem sei te dizer o que é. Por isso as pessoas me conhecem. Se fosse carimbó, não ia”, afirma a veterana.
Gaby agita SP e confirma que conquistou o Brasil
Domingo, 29/01/2012, 13:19:49 - Atualizado em 29/01/2012, 13:24:11
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(Foto: Divulgação)
“Um lamento triste sempre ecoou/ desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou/ negro entoou um canto de revolta pelos ares/ no Quilombo dos Palmares, onde se refugiou”, proclama desde 1976 o Canto das Três Raças, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, eternizado pela mineira Clara Nunes.
Na madrugada chuvosa de sexta-feira, brilharam no palco paulistano do Beco 203, na Rua Augusta, uma índia paraense do bairro pobre do Jurunas, em Belém, e um negro paulista do quilombo do Cachoeira, região montanhosa na zona noroeste da capital. A dona do show (e rainha do tecnobrega), Gaby Amarantos conta no fim, cheia de orgulho, que um “brega” paraense defendido por sua voz será tema de abertura da próxima novela das 7 da Rede Globo.
Para reencenar com ela o Canto das Três Raças, Gaby chama ao palco o rapper paulistano Emicida. Ela tece loas à “nova música brasileira”, capaz de congregar num mesmo espaço a descontração do tecnobrega paraense e a concentração do rap paulista. Ele improvisa rimas de protesto contra a ocupação policial do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, e da Cracolândia, no centro da capital, e contra os governantes paulistas.
O público jovem de classe média alta, que já vinha abaixo diante dos comandos pop e das luzes de aparelhagem grudadas ao figurino de Gaby, vem abaixo com as provocações de Emicida. “Pinheirinho! Pinheirinho!”, entoa a plateia no fim do Canto das Três Raças, juntando ao coro um slogan-palavrão direcionado, algo erroneamente, ao prefeito Gilberto Kassab. Estamos diante de uma cena símbolo das transformações vividas pelo Brasil e por aquilo que Gaby chama de “nova música brasileira”.
Parece estar acabando o tempo em que cenas chamadas “indie” cresciam nos centros urbanos cosmopolitas, enquanto periferias dispersas País afora se desenvolviam separadas em cenas distintas (mas semelhantes na produção artesanal) como axé music baiana, funk carioca, sertanejo paulista, forró cearense, lambadão mato-grossense, tchê music gaúcha e assim por diante. Juntos, Gaby e Emicida celebram aquilo que os une, por cima de quaisquer diferenças quanto a ideologia, estética, política ou hedonismo.
Vem aí uma nova Ivete Sangalo
Gaby, em especial, encena em si a contradição ambulante de que falava Raul Seixas quase 40 anos atrás. Com vozeirão e presença de palco incomuns, ostenta vocação evidente para ser uma próxima Ivete Sangalo, mas, por enquanto, permanece “indie”. A empatia explosiva entre o público do chamado Baixo Augusta demonstra isso com nitidez.
Gaby, em especial, encena em si a contradição ambulante de que falava Raul Seixas quase 40 anos atrás. Com vozeirão e presença de palco incomuns, ostenta vocação evidente para ser uma próxima Ivete Sangalo, mas, por enquanto, permanece “indie”. A empatia explosiva entre o público do chamado Baixo Augusta demonstra isso com nitidez.
Calibrando discurso que já adotara ao lado de Regina Casé, no programa global Esquenta, elogia as próprias curvas robustas: “Eu me amo do jeito que sou, me acho gostosa”. Anos atrás, a pós-tropicalista Preta Gil teve de se submeter ao escárnio cruel de pretensos humoristas televisivos, e a funkeira Tati Quebra-Barraco fez fama em cima do bordão “sou feia, mas tô na moda”. Hoje, a índia amazônica corpulenta Gaby sobe vários degraus de autoestima e se afirma bonita, simplesmente.
A plateia que já gritara “Pinheirinho!” urra “gostosa!”, com intensidade e vigor equivalentes. De acordo com o momento, o mesmo público pode usar os braços para fazer o “X”, o “T” ou o “G” (motes pop das aparelhagens de tecnobrega), desenhar fatídico “coração com as mãos” (outro bordão apropriado por Gaby), emitir a mãozinha de “capeta” do heavy metal ou gravar no celular o tema inédito da futura abertura de novela. “Eu vou samplear, eu vou te roubar”, canta a Xirley de Gaby (e do compositor pernambucano Zé Cafofinho), disseminando outro princípio fundador e agregador de seu tecnomelody.
A nova cena em que Gaby e Emicida fazem porta-bandeira e mestre-sala é pujante e vigorosa como havia décadas o Brasil não testemunhava. Ela emenda o protesto bravo do rapper a versões festivas em português de The Model (1978), do Kraftwerk, e das discotheques Funkytown (1980) - “eu tenho medo de hospital”, segundo a paródia paraense - e Ring My Bell (1979) - em vez de “you can ring my bell”, “eu não vou pro céu”.
Nesse novo desenho musical brasileiro, manguebit, samba, pagode, moda caipira, música eletrônica de índios amazônicos e repente de quilombolas paulistanos não precisam competir uns com os outros. Ao contrário, somam-se como partes que querem integrar um todo plural, diverso, heterogêneo, harmonioso. E dividindo o mesmo palco, sempre que possível. (Agência Estado)
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