segunda-feira, 2 de julho de 2012

Serra Pelada fora do Pará



O projeto que prometia ser um dos mais ousados do cinema brasileiro, programado para iniciar as gravações já este ano, foi adiado e ainda não possui data para voltar a ser produzido. O longa “Serra Pelada”, dirigido por Heitor Dhalia, estava previsto para ser filmado a partir de julho, mas problemas com o orçamento do filme – que não levou em consideração as dimensões continentais do Pará e as dificuldades da região sul do Estado, onde fica o garimpo - , são apontados como os principais motivos do adiamento.
Com roteiro de Vera Egito, estão escalados para protagonizar o filme a dupla Daniel de Oliveira e Wagner Moura – que também atua como coprodutor. Na história, ambientada na década de 1980, Joaquim e Javier chegam à Floresta Amazônica e se tornam amigos e compartilham seus sonhos. Mas a dureza da mineração e a ganância dos homens destruirão essa amizade. O enredo se passa logo após o início da “febre do ouro” iniciada na década anterior, quando a região conhecida como Serra Pelada, localizada no município de Curionópolis, se torna o maior garimpo a céu aberto do mundo e que atrai milhares de homens em busca do sonho da riqueza instantânea.
Em entrevistas à imprensa, Heitor Dhalia garantiu que cerca de 30 pessoas estavam trabalhando no Pará - a maior parte será dispensada. A assessoria da ParanoidBR Filmes confirmou as informações, mas disse que o diretor ainda não vai se pronunciar sobre a paralisação. Segundo a equipe, o longa está em fase de pré-produção avançado e logo deve voltar a ser filmado. A assessoria afirmou também que um dos problemas é a agenda de Wagner Moura -o ator estaria comprometido com outros trabalhos em setembro. Uma das hipóteses é que “Serra Pelada” seja gravado entre os meses de outubro e novembro longe do Pará, na cidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo.
A película vai enaltecer um período da história brasileira em que o garimpo representava a salvação para mais de 50 mil homens. Esta realidade vem à tona quase 20 anos depois de o governo fechar a mina para exploração manual. Recentemente, uma empresa de mineração canadense anunciou uma parceria com a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada e conquistou a permissão para explorar a área.
Os primeiros levantamentos feitos em uma parte do terreno que mede em torno de 100 hectares indicaram a presença de cerca de 50 toneladas do metal. A expectativa dos garimpeiros é que o volume seja bem maior, já que a própria mineradora informou que o potencial de novas descobertas na propriedade é elevado.
Nos tempos áureos, o ouro retirado deveria ser vendido exclusivamente à Caixa Econômica Federal. Na época, foram extraídas cerca de 40 toneladas do metal precioso, sem contar o que foi vendido clandestinamente. O grande buraco que os trabalhadores cavaram é hoje um lago com mais de 100m de profundidade.
Como consequência do adiamento, o filme poderá estar fora do festival de Cannes de 2013, como era da vontade de seu idealizador. Orçado em quase R$ 12 milhões, o longa surge na carreira de Heitor depois de uma passagem de sucesso por Hollywood, onde dirigiu o filme “12 Horas”, em que trabalhou com estrelas norte-americanas como Amanda Seyfried.
Nascido em Recife, o diretor fez carreira na O2 Filmes, produtora de Andrea Barata Ribeiro, Fernando Meirelles e Paulo Morelli. Aos 42 anos, Heitor Dhalia comanda a própria empresa e possui no currículo alguns sucessos como Nina (2004), O Cheiro do Ralo (2007) e À Deriva (2009). (Diário do Pará)

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